quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Mensagem

O evangelho do 4º domingo do advento, narrado por Lucas, relata como o anjo Gabriel comunicou à Maria a vinda do Messias, por seu intermédio, enviado pelo Pai para salvar a humanidade.

Se não temos o privilégio, singular, de Maria, precisamos perceber os sinais de seu renascimento na constância das cenas simples, e fortes, do cotidiano, que devem nos despertar para a importância da mensagem que nos deixou.

É o anjo disfarçado que escandaliza a banalidade, para chamar-nos atenção, quando estampa a face de Cristo:

- no rostinho sujo do menino de rua

- na face desfigurada do agonizante

- no choro forte com que o recém-nascido saúda a vida

- no desalento dos desempregados

- na euforia dos vitoriosos

- na ansiedade das competições profissionais

- na resignação com os insucessos

- no amor das mães

- nos desacordos das partilhas

- no perdão dos recalcitrantes

- no convívio harmônico com os desiguais

- na pregação da paz

- na resistência aos desmandos

- na persistência dos retos

- na tolerância com os intolerantes

- na compreensão para com os incompreendidos

- na paciência com os impacientes

- na concórdia com os que discordam

- na pacificação dos rebeldes

E em tantas outras situações que cada um identifica e vive no seu dia a dia. Em desvelá-lo, está a beleza da vida cristã.

Voz

Se calarem a voz dos profetas, as pedras falarão
Se fecharem uns poucos caminhos, mil trilhas nascerão
Muito tempo não dura a verdade, nestas margens estreitas demais
Deus criou o infinito para a vida ser sempre mais.


Trecho do cântico entoado durante a comunhão, na missa celebrada pelo 1º aniversário de falecimento do Cardeal Aloísio Lorscheider, na igreja de Nossa Senhora das Dores, no bairro de Otávio Bonfim, em Fortaleza.

Baú

O programa Baú Literário, desenvolvido pela Prefeitura Municipal de São Gonçalo do Amarante, no Ceará, incentiva a prática da leitura entre jovens e adultos das diversas localidades do município.

São seis baús, cada um com um acervo diferente, levados às escolas, praças, comunidades, repartições públicas municipais, por jovens agentes de leitura, envolvendo 3.500 alunos e 97 professores.

O município alcançou um dos melhores resultados do Estado por ocasião da aplicação das provas do Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica (SPAECE).

Em São Gonçalo do Amarante, o golpe do baú é despertar para a leitura.

Saiba mais no jornal Diário do Nordeste, edição de 10/12/08.

Flashes

1- Produção agrícola deve cair 5% até 2009. A previsão é do ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes.

2-Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) confirma mais cinco mortes por dengue. 11 pacientes morreram vítimas de dengue hemorrágica este ano em Fortaleza. O acumulado de casos de dengue clássica este ano no Ceará é de 44.142.

3- Geração de emprego formal desacelera no Ceará. Desde agosto há queda na criação de novas vagas. Por outro lado, no acumulado do ano o saldo é recorde.

4- Carteira assinada: País enfrenta primeira queda no mercado em seis anos.

5- Ceará bate recorde em número de transplantes. Reestruturação da Central de Transplantes do Estado contribuiu para aumento dos transplantes realizados este ano.

Saiba mais nos jornais O Estado de S. Paulo, edição de 09/12/08 e Diário do Nordeste, edições de 20, 22 e 23/12/08.

Zen

Nasce um movimento, ainda pequeno, o slow blog, nome inspirado na prática do slow food, que promove a comida local, orgânica, sazonal, em oposição ao fast food que destruiria hábitos alimentares saudáveis.

O slow blog prega uma espécie de blog zen, escrito sem pressa, despreocupado com o imediatismo, o consumo ocasional, sem ser movido por notícias.

Para Bárbara Ganley (The New BGBlogging), slow blogging é "ficar em silêncio por alguns minutos antes de escrever e jamais escrever a primeira coisa que lhe vem à cabeça".

Um Manifesto Slow Blog escrito em 2006, por Todd Sieling, consultor de tecnologia de Vancouver, Colúmbia Britânica, apresentou os princípios do movimento. O slow blog é a rejeição do imediatismo, escreveu. Sieling não anda mais escrevendo devido à falta de leitores...

Dicas do movimento slow blogging:


1- Slow blogging é a rejeição do imediatismo.

2- Slow blogging prova que nem tudo que merece ser lido é escrito às pressas.

3- Slow blogging é meditação.

4- Blogs de notícias são como restaurantes de fast food.

5- Fique em silêncio por alguns minutos antes de escrever.

6- Não escreva a primeira coisa que lhe vem à cabeça.

7- Inclua posts uma ou duas vezes por semana, mas, se precisar ficar um mês sem escrever, faça-o.

E aí, depois do que leu, você acha que eu sou slow ou fast blogger? Dá para ser slow na internet, que é essencialmente fast?

Saiba mais na Folha de S. Paulo, edição de 02/12/08.

Duas Frases

A propósito da crise econômica mundial:

1- Estamos numa enrascada profunda. Sair desta vai exigir muita criatividade, e talvez alguma sorte também.
Paul Volcker, Prêmio Nobel de Economia.

2- Quem não conhece um nó não saberá desatá-lo. E a incerteza em que nos encontramos efetivamente está a indicar a existência de um nó.
Aristóteles, na Metafísica - Porto Alegre/Globo, 1969.

Flashes

1- País pode crescer só 0,5% em 2009, diz ONU. Previsão leva em conta agravamento da crise financeira; no cenário otimista organismo prevê expansaão de 3% para o Brasil.

2- Desemprego aumentará em 2009, admite governo. Ministro do Trabalho diz que "primeiro trimestre (do próximo ano) será brabo".

3- PIB de Fortaleza cresceu 14,5% em 2006. A capital cearense é a 9ª economia entre as capitais brasileiras e o 14º município do país. Lembro que no mesmo ano o PIB do Ceará cresceu 8° o maior aumento do país, o dobro do Brasil.

4- Imposto de renda de pessoa jurídica caiu quase 50%. Pela primeira vez, desde de novembro de 2004, a arrecadação das receitas administradas pela Receita caiu.

5- CNI prevê expansão de 2,4% do PIB em 2009. Para a entidade, a desaceleração fará com que o Banco Central reduza os juros básicos já em janeiro.

Saiba mais nos jornais Folha de S. Paulo, edições de 01 e 04/12/08; Diário do Nordeste, edição de 17/12/08; O Estado de S. Paulo, edições de 08 e 17/12/08.

A Frase do Dia

Não está pronto para vencer o que não admite perder.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Boas Festas...


Sobre a mentira

Artigo de Celso Lafer, publicado no jornal O Estado de S. Paulo, em 20/07/08.

Não é usual tratar da política na perspectiva da afirmação da verdade. Platão afirmou, na República, que a verdade merece ser estimada sobre todas as coisas, mas ressalvou que há circunstâncias em que a mentira pode ser útil, e não odiosa. Na política, a derrogação da verdade pela aceitação da mentira muito deve à clássica tradição do realismo que identifica no predomínio do conflito o cerne dos fatos políticos. Esta tradição trabalha a ação política como uma ação estratégica que requer, sem idealismos, uma praxeologia, vendo na realidade resistência e no poder, hostilidade. Neste contexto, política é guerra e, como diz o provérbio, "em tempos de guerra, mentiras por mar, mentiras por terra".

Recorrendo a metáforas do reino animal, Maquiavel aponta que o príncipe precisa ter, ao mesmo tempo, no exercício realista do poder, a força do leão e a astúcia ardilosa da raposa. Raposa, leão, assim como camaleão, serpente, polvo - metáforas que freqüentemente são utilizadas na descrição de políticos -, não podem, com propriedade, caracterizar o ser humano moral que obedece aos consagrados preceitos do "não matar" e do "não mentir", como lembra Norberto Bobbio.

No plano político, o realismo da força torna límpida, numa disputa, a bélica contraposição amigo-inimigo. Já o realismo da fraude é mais sutil, pois opera confundindo e aumentando a opacidade e a incerteza na arena política, como acentua Pier Paolo Portinaro. Maquiavel avalia que a fraude é mais importante do que a força para assegurar o poder e consolidá-lo. É por este motivo que a simulação, o segredo e a mentira são temas da doutrina da razão de Estado e a veracidade não é usualmente considerada uma virtude característica de governantes.

Sustentar a simulação e a mentira como expedientes usuais na arena política é desconhecer a importância estratégica que a confiança desempenha na pluralidade da interação humana democrática. A confiança requer a boa-fé que pressupõe a veracidade. O Talmude equipara a mentira à pior forma de roubo: "Existem sete classes de ladrões e a primeira é a daqueles que roubam a mente de seus semelhantes através de palavras mentirosas." O padre Antônio Vieira afirmou que a verdade é filha da justiça, porque a justiça dá a cada um o que é seu, ao contrário da mentira, porque esta "ou vos tira o que tendes ou vos dá o que não tendes". Montaigne observou que somente pela palavra é que somos homens e nos entendemos. Por isso mentir é um vício maldito. Impede o entendimento.

A proliferação generalizada da mentira, do segredo e da dissimulação - presentes nas incontáveis "versões" governamentais sobre tantos fatos despropositados, do "mensalão" à origem do dossiê das despesas de FHC - instiga uma reflexão sobre a mentira na prática política atual do nosso país.Ao pensar sobre a mentira na política, Hannah Arendt parte da distinção proposta por Leibniz entre verdades da razão, que são necessárias, e verdades de fato, que são contingentes, o que faz com que o seu oposto seja possível. Realça que fatos e eventos constituem a efetiva textura do domínio político e da sua verdade.

Fatos e eventos são mais frágeis do que axiomas. Por isso estão sujeitos ao assédio do poder, pois os fatos não têm razão conclusiva para serem o que são; poderiam ter sido de outra forma em função de sua natureza contingente. Porque não são auto-evidentes, requerem o testemunho confiável para serem preservados. Esta é, observo eu, a dimensão política da proibição, nos Dez Mandamentos, do falso testemunho, reafirmada várias vezes nos Evangelhos.

O potencial da mentira na política tem a sua explicação na origem da palavra, que vem do latim mentire, que quer dizer inventar, de mens, mente, da raiz men, que, por oposição a corpo, designa a atividade de pensar. Explica Hannah Arendt que a ação requer imaginação, ou seja, a capacidade de pensar que as coisas podem ser diferentes do que são para serem mudadas. Entretanto, esta mesma imaginação, que permite contestar os fatos para se ter a iniciativa de transformá-los, permite desconsiderá-los, o que, em outras palavras, quer dizer que a capacidade de mudar fatos e negar fatos através da imaginação está inter-relacionada. Este é o vínculo, apontado pelo padre Antônio Vieira, entre os juízos temerários, formados na imaginação, e os falsos testemunhos, daí advindo a mentira como uma tentação que não conflita com a razão, porque as coisas poderiam ter sido como o mentiroso as conta.

Nesta tentação, impulsionada pelo realismo do poder, vem recorrentemente incidindo o governo Lula ao manipular fatos para confundir a arena política por meio da multiplicidade de "versões". Estas confirmam a observação de Montaigne de que a mentira, pela sua natureza, ao contrário da verdade, não tem apenas um rosto, mas "cem mil formas e um campo indefinido".

A verdade factual não é questão de opinião. Por isso mesmo a democracia, que pressupõe o respeito pela cidadania e o controle e a responsabilidade do poder, requer o direito dos governados a uma informação exata e honesta. A palavra dos governantes que mascara e esconde põe em questão o chão da vida política democrática dada pela verdade factual. Diante do camaleonismo das "versões", leva à apatia, ao cinismo, à indiferença que minam a confiança exigida pela democracia.

No livro do Êxodo (23, 7) está presente, com força, a exortação de se afastar da palavra mentirosa. Na exegese judaica desta exortação se aponta que nenhum ser humano consegue ser totalmente veraz. Por isso o mundo está dividido em dois grupos de pessoas: aquelas que estão próximas da mentira e aquelas que buscam dela se afastar. Deixo ao leitor a tarefa de qualificar o enquadramento de tantos membros do atual governo e de seus próximos.

* Celso Lafer, professor titular da Faculdade de Direito da USP, membro da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Brasileira de Letras, foi ministro das Relações Exteriores no governo FHC.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Veja nota da revista Veja

Papai Noel da caatinga

Há um ano, o governador do Ceará, Cid Gomes, dispensou uma licitação de compra de livros didáticos para fechar um contrato de 7,5 milhões de reais com a editora Aprender. A empresa é ligada a Edgar Linhares, que preside o Conselho de Educação do Ceará e foi assessor de Cid Gomes quando o político era prefeito de Sobral. O Tribunal de Contas do estado considerou que a operação fora irregular e só não mandou cancelá-la porque isso deixaria os alunos sem livros no meio do ano letivo. Na semana passada, Cid mostrou que não está nem aí para o tribunal. Dispensou outra licitação, desta vez de 5,8 milhões de reais, para comprar mais livros da editora Aprender.

A Frase do Dia

Quem não reconhece virtude no adversário está pronto para ser derrotado por si mesmo.

Daniel Piza

Muralha do Japão

O Jardim Japonês é, para mim, uma evocação da infância e adolescência, passadas no bairro de São Gerardo, aqui em Fortaleza.

Ele ficava bem ali, na rua Juvenal Galeno, nas proximidades da praça da igreja de Nossa Senhora das Dores, no bairro de Otávio Bonfim.

Uma placa modesta assinalava sua localização em um terreno abaixo do nível da rua, cujas pedras irregulares, polidas pelo tráfego, escorregavam em acentuado declive para a plantação de flores, cuidada com zelo nipônico.

Durante anos, o Jardim Japonês ornamentou templos, residências, clubes, colorindo ambientes com suas flores, na alegria e na tristeza.

O patriarca Fujita, laborioso e honesto, criou uma família cujos membros se projetaram, com destaque, em vários ramos de atividade. Homenageio a todos, na figura saudosa de meu colega e amigo Edmar Fujita, homem simples e bom, pioneiro da hemoterapia no Ceará, cuja viúva e filhos lhe seguem os passos.

Faço o preâmbulo para dizer que, se a imigração japonesa para o Ceará, no passado, se resumira à família Fujita, e mais tarde a um grupo trazido pelo Governo Federal, que se localizou no Núcleo Agrícola de Guaiuba, a homenagem que a Prefeitura de Fortaleza presta ao centenário da chegada dos primeiros japoneses ao Brasil, conta com a minha simpatia.

Se a idéia é boa e merece aplauso, considero que sua execução não foi feliz.

Julgo adequada a escolha do terreno para implantação do novo Jardim Japonês, agora público, por estar abandonado, embora encravado em área nobre.

Quem caminha na orla de Fortaleza, no trecho que corresponde à Avenida Presidente Kennedy, tem dificuldade de ver o mar, tantas as construções erguidas sobre a praia. É um paradoxo do qual Fortaleza é exemplo único. Tão próximos do mar, tão distante dos olhos. Os que conhecem o projeto, inspirado na tradição japonesa, falam de sua beleza.

Acontece que, escondido por trás de uma muralha de concreto, agredindo a paisagem, não será avistado pelos transeuntes.

Imagino quanto será bonita a visão do alto dos prédios das proximidades, que abrigarão privilegiados espectadores.

Descontrole

Em solenidade no Palácio Iracema, sede do Governo do Estado do Ceará, para assinatura da ordem de serviço da rede de internet banda larga, o Governador se incomodou com o fato do Presidente da Empresa de Tecnologia da Informação do Ceará (ETICE) considerar-se o autor da idéia.

Inconformado com a condição de patrocinador do projeto, concebido pelo professor, diante de uma platéia estarrecida, se considerou reduzido, pelo mesmo, a condição de cocô de cavalo...

Saiba mais no jornal O Estado, edição de 18/12/08.