quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016


Agradeço o comparecimento do Senador José Pimentel
 ao lançamento de minha obra na Biblioteca Digital do Senado.
 O único Senador cearense a se fazer presente.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

terça-feira, 8 de novembro de 2016

A política das ruas

Persistiram os patriotas, hibernaram os autonomistas, 
acordaram os socialistas.
(Angela Alonso)



Desde 2013, o Brasil vive conjuntura de crise. Forças sociais puxam o país em direções opostas em jornais, sites, tribunais, Parlamento e na rua.
O período é curto, mas se quebra em três ciclos de protestos. Do primeiro ninguém esquece, o fatídico junho de 2013, que pegou governo e partidos de calças curtíssimas. De bate-pronto, muitos exaltaram o nascimento de movimento progressista. Mas a cena era mais complicada —antes um mosaico de pequenos movimentos independentes, distribuídos em dois grandes campos.
Grupos autonomistas, puxados pelo MPL, deram a ignição, com protestos performáticos (catracas queimadas), horizontalismo (negação da hierarquia de gênero e de liderança política), estética anarquista e símbolos das manifestações por justiça global, com defesa de práticas autossustentáveis, comunitárias e libertárias.
Atarantados, os movimentos sociais de viés socialista engrossaram. Linha de frente dos protestos desde a redemocratização, trouxeram seu roteiro de costume: bandeiras vermelhas, tônica redistributiva, organização vertical.
Essas duas frentes à esquerda ganharam companhia. Emergiu um campo de manifestantes independentes, sem coordenação ou experiência política, atraídos pela internet ou pelo noticiário. Mais expressivo que propositivo, içou a bandeira nacional. Cartazes, roupas, pinturas faciais recuperaram os símbolos nacionalistas dos movimentos pela redemocratização e pelo impeachment de Collor.
Eis o resumo de 2013: três grupos repartidos em dois campos polares. Nas trincheiras autonomista e socialista, demanda por expansão e melhora de políticas sociais, transporte, saúde, educação. No front patriota, críticas à hipertrofia e ineficiência do Estado, aos políticos e retomada da divisa do Fora Collor: "ética na política".
Embora se dissessem apartidários, orientaram-se todos pelo sistema político, postando-se à esquerda ou à direita do governo do PT. A efetiva novidade de 2013 foi que à mobilização por expansão de direitos, usual desde a redemocratização, juntou-se clamor liberal, pró-mercado, anti-Estado.
Esse campo patriota ganhou ossatura e volume num segundo ciclo de mobilização em 2014, enquanto socialistas e autonomistas esmaeciam. Três associações lideraram os eventos: a liberal Vem pra Rua, o Movimento Brasil Livre, mais à direita, e, no extremo, o Revoltados On Line. Em março de 2015, 54 grupos similares se albergaram na Aliança Nacional dos Movimentos Democráticos, fincada em Estados tucanos, sobretudo São Paulo, e com suporte do empresariado.
O foco se fechou na contestação ao governo Dilma, expressa em retórica moralizadora de dois sentidos: a afirmação da moralidade pública (anticorrupção) e o moralismo, reiteração de valores da sociedade tradicional (como pátria, religião, família), óbvios nos atos encerrados com rezas e hino nacional.
Farpas contra "políticos em geral" confluíram na demanda por impeachment da presidente. E a pasteurização levou à busca de lideranças fora da política profissional. Na mesma operação simbólica em que Lula virou Pixuleco, o juiz Moro sagrou-se salvador da pátria.
O terceiro ciclo explodiu mais recentemente, quando a rua passou a objeto de disputa. Persistiram os patriotas, hibernaram os autonomistas, acordaram os socialistas. Os aliados tradicionais do PT, os sindicatos, e duas novas coalizões, a Frente Povo sem Medo (cerca de 30 movimentos) e a Frente Brasil Popular (com mais de 70 organizações), recuperaram a pauta petista dos anos 1980: defesa do Estado de direito ("não vai ter golpe"), pró políticas sociais e combate ao oligopólio dos meios de comunicação ("o povo não é bobo, abaixo a Rede Globo"). Essa foi a linha dos atos anti-impeachment e em desagravo a Lula.
O que nasceu junto-e-misturado decantou em campos apartados: um anti-PT, outro antigolpe. A cerca invisível de 2013 virou muro de concreto nas votações do impeachment na Câmara e no Senado.
Ao longo desses ciclos de protestos, o protagonismo nas ruas deslizou da nova esquerda autonomista para a nova direita patriota, com a esquerda socialista desafiada pelos dois lados.
O fim do processo institucional do impeachment remata essa febre de manifestações?
O efeito dos protestos em sequência é que o novo governo nasceu em sociedade mobilizada. O campo socialista não o reconhece e segue ebulitivo. Já os patriotas se recolheram, uma vez atingido o objetivo de desalojar o PT do poder. Mas não celebraram Temer.
Os dois campos tomaram o espaço público para criticar o governo em 2013 simultaneamente, mas por razões diferentes. Tampouco precisam de pauta positiva compartilhada para tornar a fazê-lo. Basta um inimigo comum. A vaia que recebeu na Olimpíada sinaliza que Temer é bom candidato ao posto.

Fonte: Folha de S. Paulo, ilustríssima, 25/09/2016.

A dor de Lázaro

Suspeito que a civilização pressupõe uma razoável 
dose de infelicidade como condição necessária
(Luiz Felipe Pondé)


 O tema da redenção me encanta há muitos anos. Sou um descrente encantado com a tradição bíblica. Para almas apressadas, pode parecer uma contradição. Prefiro ver como uma espécie de pequena modéstia diante de tamanha beleza contida nas temáticas bíblicas.
Entre as várias histórias que me encantam está a de Lázaro. Não propriamente como a ideia do milagre de trazer alguém da morte, o que tendo a duvidar como fato, mas, sim, como metáfora da maravilhosa experiência que é, em meio à vida, você sentir-se vivo depois de muito tempo em que se sentia morto. Aliás, parte dessa ressurreição é tomar consciência dessa condição de morto em que se encontrava. Esta é a dor de Lázaro. Fosse inventada uma máquina para medir a sensação de estar morto em meio à vida, ela seria um blockbuster das tecnologias da informação.
Suspeito mesmo que a civilização pressupõe uma razoável dose de infelicidade como condição necessária. O maravilhoso livro de Freud "O Mal-Estar na Civilização" (uma das peças literárias necessárias para se entender o século 20) trata dessa condição de mal-estar como "resto" e condição do "processo civilizador", nos termos do sociólogo Norbert Elias. Acomodar os anseios numa fina equação que enlaça afetos num sistema de obrigações sociais garante a continuidade da espécie. Penso mesmo que este trabalho tenha ocupado muitos milênios de nossos grandiosos ancestrais no Alto Paleolítico. Fosse eu ter uma religião hoje, seria o culto de nossos patriarcas paleolíticos.
Assim sendo, a civilização implica uma certa "dose de morte" em meio à vida. Lázaro estava morto e voltou à vida. Como podemos estar mortos em meio à vida? É possível termos uma experiência de Lázaro na vida?
Uma das formas mais comuns de morte é pensar que não há mais horizonte a não ser o cotidiano instituído: a mesma casa, o mesmo trabalho, a mesma padaria, os mesmos rostos, as mesmas lágrimas, o mesmo envelhecimento, o mesmo corpo no sexo. Um dos segredos da juventude é, exatamente, a possibilidade de ter um futuro desconhecido a ser explorado. Portanto, a ideia de que tudo que havia para ser conhecido em sua vida já o foi é, seguramente, uma forma de morte em vida. O amadurecimento, muitas vezes, implica uma certa dose de descrença na possibilidade de ressurreição em vida. Como amadurecer sem morrer?
Uma das razões para a morte em vida é a dureza da sobrevivência material. Nesse campo, a vida não tolera "iniciantes". Qualquer erro e ela o castigará sem pena, transformando você num "loser" cheio de ressentimento e inveja daqueles que tiveram mais sorte ou, simplesmente, daqueles que nasceram com mais talento do que o seu pequeno quinhão de pobreza de espírito. E a vida profissional, no mundo contemporâneo, carrega muito mais significado do que "mero" ganho material, uma vez que passamos a maior parte do tempo envolvidos com ela. A vida profissional é, quase sempre, para a maioria de nós, uma certa dose de morte em vida.
Outra dose de morte em vida é o desencanto com o amor. A ideia de que o amor é para iniciantes ou desavisados com certeza nos garante uma vida longa sem sobressaltos. Infelizes são aqueles que caem vítima dessa doença que assola seus corações com uma tristeza infinita, instaurando o reino de uma inapetência para o cotidiano sem amor e afogado em demandas. Tranquilos são aqueles que se mantêm firmes em seu trajeto rumo ao envelhecimento sustentável.
Morrer em vida é, seguramente, se afogar em rancor, inveja, covardia. Afetos esses que, facilmente, se constituem em razões para conter o impulso de Lázaro em direção ao abandono do repouso na morte. Fiódor Dostoiévski (século 19) via em Lázaro morto a figura do homem assolado pelo medo da vida, assolado pela medo de correr o risco de ser perdoado por suas misérias porque, para ressuscitar, há que reconhecer-se morto primeiro. Só aquele que se reconhece morto poderá ver a imagem de Lázaro refletida em seu espelho. Esse rosto marcado pela dor da morte e pelas dores de parto que a ressurreição causará em sua vida.

Fonte: Folha de S.Paulo, ilustrada, 24/10/2016.


sexta-feira, 4 de novembro de 2016

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Livros infantis

 Livros que minha filha Maria Daniela lia quando criança.

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Placa de Homenagem


  1. Placa aposta na fachada da casa de meus avós paternos em São Gonçalo do Amarante hoje propriedade de minhas irmãs e minha

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

A POLÍTICA DAS RUAS

Desde 2013, o Brasil vive conjuntura de crise. Forças sociais puxam o país em direções opostas em jornais, sites, tribunais, Parlamento e na rua.
O período é curto, mas se quebra em três ciclos de protestos. Do primeiro ninguém esquece, o fatídico junho de 2013, que pegou governo e partidos de calças curtíssimas. De bate-pronto, muitos exaltaram o nascimento de movimento progressista. Mas a cena era mais complicada —antes um mosaico de pequenos movimentos independentes, distribuídos em dois grandes campos.
Grupos autonomistas, puxados pelo MPL, deram a ignição, com protestos performáticos (catracas queimadas), horizontalismo (negação da hierarquia de gênero e de liderança política), estética anarquista e símbolos das manifestações por justiça global, com defesa de práticas autossustentáveis, comunitárias e libertárias.
Atarantados, os movimentos sociais de viés socialista engrossaram. Linha de frente dos protestos desde a redemocratização, trouxeram seu roteiro de costume: bandeiras vermelhas, tônica redistributiva, organização vertical.
Essas duas frentes à esquerda ganharam companhia. Emergiu um campo de manifestantes independentes, sem coordenação ou experiência política, atraídos pela internet ou pelo noticiário. Mais expressivo que propositivo, içou a bandeira nacional. Cartazes, roupas, pinturas faciais recuperaram os símbolos nacionalistas dos movimentos pela redemocratização e pelo impeachment de Collor.
Eis o resumo de 2013: três grupos repartidos em dois campos polares. Nas trincheiras autonomista e socialista, demanda por expansão e melhora de políticas sociais, transporte, saúde, educação. No front patriota, críticas à hipertrofia e ineficiência do Estado, aos políticos e retomada da divisa do Fora Collor: "ética na política".
Embora se dissessem apartidários, orientaram-se todos pelo sistema político, postando-se à esquerda ou à direita do governo do PT. A efetiva novidade de 2013 foi que à mobilização por expansão de direitos, usual desde a redemocratização, juntou-se clamor liberal, pró-mercado, anti-Estado.
Esse campo patriota ganhou ossatura e volume num segundo ciclo de mobilização em 2014, enquanto socialistas e autonomistas esmaeciam. Três associações lideraram os eventos: a liberal Vem pra Rua, o Movimento Brasil Livre, mais à direita, e, no extremo, o Revoltados On Line. Em março de 2015, 54 grupos similares se albergaram na Aliança Nacional dos Movimentos Democráticos, fincada em Estados tucanos, sobretudo São Paulo, e com suporte do empresariado.
O foco se fechou na contestação ao governo Dilma, expressa em retórica moralizadora de dois sentidos: a afirmação da moralidade pública (anticorrupção) e o moralismo, reiteração de valores da sociedade tradicional (como pátria, religião, família), óbvios nos atos encerrados com rezas e hino nacional.
Farpas contra "políticos em geral" confluíram na demanda por impeachment da presidente. E a pasteurização levou à busca de lideranças fora da política profissional. Na mesma operação simbólica em que Lula virou Pixuleco, o juiz Moro sagrou-se salvador da pátria.
O terceiro ciclo explodiu mais recentemente, quando a rua passou a objeto de disputa. Persistiram os patriotas, hibernaram os autonomistas, acordaram os socialistas. Os aliados tradicionais do PT, os sindicatos, e duas novas coalizões, a Frente Povo sem Medo (cerca de 30 movimentos) e a Frente Brasil Popular (com mais de 70 organizações), recuperaram a pauta petista dos anos 1980: defesa do Estado de direito ("não vai ter golpe"), pró políticas sociais e combate ao oligopólio dos meios de comunicação ("o povo não é bobo, abaixo a Rede Globo"). Essa foi a linha dos atos anti-impeachment e em desagravo a Lula.
O que nasceu junto-e-misturado decantou em campos apartados: um anti-PT, outro antigolpe. A cerca invisível de 2013 virou muro de concreto nas votações do impeachment na Câmara e no Senado.
Ao longo desses ciclos de protestos, o protagonismo nas ruas deslizou da nova esquerda autonomista para a nova direita patriota, com a esquerda socialista desafiada pelos dois lados.
O fim do processo institucional do impeachment remata essa febre de manifestações?
O efeito dos protestos em sequência é que o novo governo nasceu em sociedade mobilizada. O campo socialista não o reconhece e segue ebulitivo. Já os patriotas se recolheram, uma vez atingido o objetivo de desalojar o PT do poder. Mas não celebraram Temer.
Os dois campos tomaram o espaço público para criticar o governo em 2013 simultaneamente, mas por razões diferentes. Tampouco precisam de pauta positiva compartilhada para tornar a fazê-lo. Basta um inimigo comum. A vaia que recebeu na Olimpíada sinaliza que Temer é bom candidato ao posto. 

Fonte: "ilustríssima" - Ângela Alonso - Folha de S.Paulo - Set/2016 

Um texto interessante que analisa o protagonismo e motivações de diferentes movimentos de rua que vem sacudindo o país nos últimos anos sobretudo nas grandes cidades

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

O beijo da paz

Anunciada rendição dos japoneses na segunda guerra mundial em Nova York as pessoas saíram às ruas para comemorar. Um marinheiro bêbado abraçou e beijou uma enfermeira que saia do trabalho. A foto ficou famosa. A moça faleceu recentemente.

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Nostalgia e romantismo no cinema


Praias do Ceará I




Vistas antigas de praias do Ceará em cartões postais que trazem no versos notícias de pessoas que nos visitavam. Mensagens perdidas no tempo abandonadas pelos destinatários recolhidas por mãos anônimas exibidas em feiras de antiguidades  

Praias do Ceará II


Praias do Ceará III


sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Cine Majestic - Cadeira

Sentado em cadeiras como esta assisti a muitos filmes no velho Majestic. Quando acontecia qualquer problema com a projeção os assentos vazios movimentados faziam barulho infernal

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

O futuro do Sus

Bomba-relógio (Drauzio Varella)

A medicina de hoje custa os olhos da cara. Na contramão de outros ramos da atividade econômica, na assistência médica a produção em escala e a incorporação de novas tecnologias encarecem o produto final.
Até os anos 1960, os medicamentos eram relativamente baratos e dispúnhamos de poucos recursos laboratoriais. Os exames de imagem ficavam praticamente restritos ao eletrocardiograma e ao raio-X simples ou contrastado.
Nos últimos 50 anos, surgiram exames que nos permitem analisar detalhes da fisiopatologia humana e das características dos germes que nos atacam. Ao mesmo tempo, a automatização e a informática possibilitaram acesso aos resultados das análises de sangue e de outros líquidos corporais em algumas horas.
Ultrassons, tomografias computadorizadas, ressonâncias magnéticas, PET-CTs, cintilografias, endoscopias, cateterismos e outras tecnologias que fornecem imagens anatômicas nítidas e dão ideia do funcionamento dos órgãos internos revolucionaram nossa capacidade de fazer diagnósticos e avaliar a eficácia dos tratamentos.
No mesmo período, a indústria farmacêutica soube aplicar os conhecimentos gerados na academia para desenvolver drogas e agentes biológicos de toxicidade baixa, capazes de curar infecções graves e controlar doenças crônicas por muitos anos.
Ao lado desses avanços técnicos que tiveram enorme impacto na qualidade de vida e longevidade da população estão os custos exorbitantes trazidos por eles.
Os 150 milhões de brasileiros que dependem exclusivamente do SUS convivem com a falta de recursos e os problemas crônicos de gerenciamento do sistema público. Os 50 milhões que pagam planos de saúde queixam-se das mensalidades e dos entraves burocráticos para marcar consultas, exames e internações.
A pobreza do SUS todos conhecem. O que poucos sabem é que a saúde suplementar trabalha com margens de lucro perigosas. Contabilizando os planos mais lucrativos e os deficitários, as operadoras têm, em média, 2% a 3% de lucratividade.
No Brasil, a faixa da população que mais cresce é a que está acima dos 60 anos -justamente a que demanda os cuidados médicos mais dispendiosos, que o sistema público não tem condições de suportar e as operadoras não conseguem transferir para seus usuários sem levá-los à inadimplência.
Não é necessário pós-graduação na Getúlio Vargas para constatar que a persistirem os custos crescentes, nosso sistema de saúde ficará inviável: o SUS em crise permanente por falta de verbas; a saúde suplementar, pelo risco de falência.
Não existe saída, senão deslocar o foco das políticas públicas da doença para a prevenção. É insano esperar que as pessoas adoeçam para então nos preocuparmos com elas.
Se 52% dos brasileiros estão com excesso de peso, metade das mulheres e homens com mais de 50 anos sofre de hipertensão, o diabetes se acha instalado em mais de 10% dos adultos e a dependência do fumo corrói em silêncio o organismo de quase 20 milhões, haveria alternativa?
A responsabilidade é de todos, inclusive dos médicos. Saem de nossos receituários as requisições de exames desnecessários, medicamentos caros e condutas que contradizem evidências científicas.
As faculdades de medicina têm que ensinar noções de economia e de gerenciamento. É um absurdo nababesco prescrevermos remédios e exames sem ter ideia de quanto eles custam.
O sistema de saúde brasileiro vai quebrar se não criarmos estímulos para que cada cidadão assuma a responsabilidade de cuidar do próprio corpo, conscientizarmos os médicos e a população de que exames desnecessários consomem recursos e trazem riscos, exigirmos que hospitais e centros de atendimento apresentem indicadores que permitam avaliar a qualidade e o custo/benefício dos serviços prestados, negociarmos com a indústria os preços abusivos de algumas drogas, próteses e equipamentos, e estabelecermos critérios rígidos para impedir que a judicialização errática de hoje se perpetue em benefício dos que podem contratar advogados.
Uma população sedentária que fuma, engorda e envelhece é uma bomba-relógio para um sistema de saúde perdulário e subfinanciado como o nosso. 

Fonte: Folha de S.Paulo (05/03/2016)

O turismo do clima

Museu de Lisboa / Torreão Poente

Até hoje Portugal se beneficia do clima mais ameno para atrair turistas e residentes de países europeus de clima frio

São Petersburgo

Saint Peterburg
Foto: Emil Kan

O passeio das freiras

Les nonnes en virée - New york
(Freiras em viagem de carro - Nova Iorque)
Foto: Édouard Boubat

Escadas em caracol

Flight of windig Stairs - Germany
(Lance de escadas em caracol - Alemanha) 
Foto: Daniel Sainthorant

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Cochilo- um N a mais

Fonte: Folha de S. Paulo - 31/07/20

Nem a Folha de São Paulo, um grande jornal, escapa dos cochilos gramaticais



quinta-feira, 28 de julho de 2016

O trio Rosário

As irmãs Maria Isabel, Maria Beatriz e o irmão José Augusto então em Portugal acolhidos pelo carinho dos avós . Duas presenças e uma saudade. Os três então estavam longe de imaginar o que seria a aventura brasileira.

segunda-feira, 4 de julho de 2016

Getúlio Vargas e Walt Disney em visita ao Brasil


                                  Olhares curiosos à mesa do que parece ser uma solenidade

Todas as Mulheres do Mundo


                              Cartaz de um dos bons filmes brasileiros. Estrelado por Leila Diniz
                                         que era casada com o diretor Domingos de Oliveira

Cemitério de automóveis

                      Curiosa montagem de um cemitério de automóveis tendo por fundo a catedral
                      da cidade do Rio de Janeiro

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Atualidade, o Brasil crucificado

*Publicação "História da Caricatura Brasileira: 
Os precursores e a consolidação da caricatura no Brasil"
de Luciano Magno (Vol. 1)

O bicho de pé

"Extracting a jigger, scene in the Brazils (c. 1822)".
(Extração de bicho-de-pé, cena nos Brasis, c. 1822).
 Aquarela, 20,3 x 21 cm. National Library of Australia.

*Publicação "História da Caricatura Brasileira: 
Os precursores e a consolidação da caricatura no Brasil"
de Luciano Magno (Vol. 1)

A lentidão do progresso

*Publicação "História da Caricatura Brasileira: 
Os precursores e a consolidação da caricatura no Brasil"
de Luciano Magno (Vol. 1)

Atualissima


Charge "Manipanço brasileiro", em que Cândido de Faria faz a caricatura do Imperador D. Pedro II a oferecer pastas para seus ministros e aliados. Ao centro as caveiras com os dizeres: Vítimas da seca do Ceará. O MEQUETREFE Nº 120, de 10-01-1878.

*Publicação "História da Caricatura Brasileira: 
Os precursores e a consolidação da caricatura no Brasil"
de Luciano Magno (Vol. 1, Pág. 222)
*Publicação "História da Caricatura Brasileira: 
Os precursores e a consolidação da caricatura no Brasil"
de Luciano Magno (Vol. 1)

terça-feira, 3 de maio de 2016

Fonte: Jornal O GLOBO (Sexta-feira, 25/06/1993)

sexta-feira, 29 de abril de 2016

NUNO PACHECO E O SEXO DAS PALAVRAS

Segundo Eça, "o riso é a mais antiga e ainda a mais terrível forma de crítica. Passe-se sete vezes uma gargalhada em volta de uma instituição, e a instituição alui-se". Ora, numa altura em que Portugal atravessa grave crise, em inúmeros sectores da vida nacional, o Bloco de Esquerda fez-se móbil  de uma cruzada em prol da “linguagem sexista”. E se o poder do riso leva ao aluimento das instituições, não pode o Bloco de Esquerda deixar, consequentemente,  de se preocupar com este texto de Nuno Pacheco (“Público”, 22.Abril.2016), nem que seja só como prevenção nas escolhas de temas futuros com verdadeiro interesse para a grei. Para não privar uns tantos portugueses e  portuguesas (ou  portuguesas e  portugueses, em trato cavalheiresco?) da sua leitura, transcrevo o seu  texto:

“Se o ridículo matasse, Portugal estava constantemente pejado de cadáveres. Não bastava a tolice do acordo ortográfico, tolice aliás que o Bloco de Esquerda abraça estoicamente, voltámos agora à mais tola e inútil das cruzadas: a da chamada “linguagem inclusiva”; o contrário da linguagem “sexista” e “discriminatória” onde se diz pais, irmãos, avós, primos, etc. Tudo discriminatório, naturalmente. Ora foi com base em tal pressuposto que, num momento de particular inspiração, o BE propôs que o Cartão de Cidadão passe a chamar-se Cartão de Cidadania. Talvez porque Cartão de Cidadão e Cidadã fosse demasiado comprido. Ricardo Araújo Pereira, no Governo Sombra, já caricaturou devidamente esta paranóia correctiva. Disse ele, imaginando um discurso bloquista: “Portugueses e portuguesas, estamos aqui reunidos e reunidas porque estamos todos e todas preocupados e preocupadas com a questão dos desempregados e desempregadas”. Pois. Mas mesmo assim não chegava. Era preciso nuns casos começar com o masculino e noutros com o feminino, para não ofender ninguém. E havia que olhar inquisitorialmente para outras palavras, muitas, milhares, que enchem livros, dicionários e gramáticas, antros de desigualdades com masculinos e femininos por todo o lado, olhem para criança (e não há o crianço?), para membro do partido (haverá a membra?), para polícia ou guarda (deveria haver o polício e o guardo?)… E então a toponímia? Ah, mas aqui imperam as “mulheres”: vejam a rua, a praça, a avenida, a travessa, a calçada, a estrada, a auto-estrada, enquanto para os “homens” sobra o beco, o largo, o passeio, o boqueirão! Querem mesmo acabar com a linguagem “sexista”? Acabem com o Português. Porque ele, que é língua no feminino e idioma no masculino, está impregnado de sexo por tudo quanto é letra. É que até o Bloco soa no masculino. Deveria ser Bloc@? Ou Bloca?”

Fonte: Blog DE RERUM NATURA (25 de abril de 2016)

quarta-feira, 20 de abril de 2016

COMO MORREM AS INSTITUIÇÕES
(BOLÍVAR LAMOUNIER)


Instituições não morrem de morte morrida, morrem de morte matada – e raramente de forma abrupta. Fenecem (ou se atrofiam) gradativamente, ao longo de um processo pontilhado pelo desprezo de alguns e pela prepotência de outros. E, sobretudo, por agressões e traições ao seu espírito. Por ações e omissões da parte dos dirigentes e representantes aos quais incumbe zelar pelos papéis que as distinguem, mas que em vez disso acabam contribuindo para a descaracterização deles. 
Para bem fixar o sentido da afirmação acima peço licença para fazer dois esclarecimentos preliminares. O primeiro é que esta reflexão carece de sentido para extremistas de direita ou de esquerda. Para os adeptos do fascismo (e do populismo, seu primo pobre latino-americano), o que importa é a vontade do líder, do Führer, nunca os “formalismos vazios” que os liberais chamam de “instituições”. Numa linha muito própria, o conceito de política empregado pelos comunistas e seus companheiros de viagem tem pouco ou nada que ver com instituições; mal se distingue da tática, domínio regido muito mais pela malícia do que por valores. Os leitores a que me dirijo são, portanto, preferencialmente, os que prezam o liberalismo político e a democracia. 
Em segundo lugar, há uma interrogação prévia a ser respondida. O que distingue uma instituição de uma organização qualquer? Minha resposta, já em parte indicada, é que uma instituição só existe em função do fiel cumprimento, por seus dirigentes e representantes, dos papéis que conferem sentido prático aos valores que ela professa. Uma igreja cujos dirigentes não se comportam como religiosos pode ser qualquer coisa, mas igreja certamente não é. O comandante militar que propende a agir como braço armado de um líder ou de uma facção política pode ser um caudilho, mas não a autoridade que jurou defender a sociedade e a Constituição. A distinção que estou tentando delinear vale em todos os níveis e âmbitos da sociedade. Por ação ou omissão, o professor que não vê diferença entre ensino e proselitismo e a maioria estudantil que se acomoda ou se deixa intimidar pelos profissionais do grevismo também contribuem para a descaracterização da instituição universitária. 
Infelizmente, a crise política e econômica em que o Brasil se encontra é propícia à multiplicação de comportamentos anti-­institucionais. Três casos recentes parecem-­me requerer um comentário crítico.
Primeiro, o posicionamento assaz polêmico de dois ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso e Marco Aurélio Mello. 
Barroso, antecipando o possível afastamento de Dilma Rousseff e a consequente ascensão de Michel Temer, exclamou diante de uma plateia algo como “um governo do PMDB? Meu Deus, é isso o que temos?” – enunciando uma posição manifestamente facciosa. Não menos chocante, Marco Aurélio Mello, dono de uma formidável bagagem de conhecimentos jurídicos e de uma não menos formidável experiência judicante, assumiu uma posição frontalmente contrária ao impeachment, chegando mesmo a vaticinar dias sombrios para o País no caso de a proposição a ser brevemente votada na Câmara dos Deputados sair vitoriosa. Um juízo de valor, sem nenhuma dúvida, com a agravante de haver sido formulado como uma previsão ou antecipação hipotética de um estado de coisas futuro.
Proposições desse tipo são adequadas quando enunciadas pelos profissionais da futurologia – a chamada “construção de cenários” –, mas descabem por completo na boca de um magistrado. 
O segundo caso, que comento por dever de oficio, é a compra de votos para tentar deter o impeachment que Lula organizou nas dependências do hotel Golden Tulip, em Brasília. Há coisa de 20 anos, e com objetivo patentemente eleitoral, Lula ofereceu aos brasileiros uma avant-­première do gênero populista pelo qual haveria de se nortear, afirmando que mais de metade da Câmara dos Deputados era integrada por “picaretas”. Em outros tempos – lembro-­me dos anos 50 –, teria recebido uma resposta à altura. Se se atreveu a fazer tal afirmação, foi certamente por perceber a vertiginosa perda de altitude do Poder Legislativo no período pós-­transição e pós-­Constituinte. Mas, ainda assim, quem ali vemos, no Golden Tulip, dando expediente ful-l­time, é um ex-­presidente da República. Um ex­-presidente investigado pela Justiça, isso é certo, mas que ao menos por três razões deveria dar­-se ao respeito: o cargo que ocupou durante oito anos, a estima que parcela expressiva da sociedade ainda lhe devota e um elementar respeito às instituições democráticas. 
Por último, devo também me referir a certo tipo de parlamentar, aquele ao qual Lula parece estar se dedicando com maior afinco. Falo dos “picaretas”, do “baixo clero”, dos que devem seus mandatos aos “grotões” – ou seja, daqueles que jamais ergueram a voz para contestar esses termos pejorativos, como também não contestaram o insulto que Lula lhes fez em 1993. 
Quer nas referências verbais que fazia em relação a eles, quer nas atividades “práticas” mediante as quais procura aliciá-­los, Lula sempre os aviltou na física e na jurídica – ou seja, como indivíduos e como integrantes da instituição legislativa. Se esse é um retrato fiel dos “picaretas”, se eles de fato carecem, como Lula insinuou, da altivez e da independência que o exercício de um mandato eletivo pressupõe, se entre eles a regra é a falta de brios e de hombridade, então, convenhamos, o Congresso Nacional está de fato prestes a perder o status de uma verdadeira instituição. Está se transformando numa organização qualquer, fadada a perder o respeito dos cidadãos. 


*BOLÍVAR LAMOUNIER É CIENTISTA POLÍTICO, É SÓCIO­-DIRETOR DA CONSULTORIA AUGURIUM. SEU ÚLTIMO LIVRO É 'TRIBUNOS, PROFETAS E SACERDOTES – INTELECTUAIS E IDEOLOGIAS NO SÉCULO 20' (COMPANHIA DAS LETRAS)

Fonte: O Estado de S. Paulo (10/04/2016)
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RADICALISMOS
(ANGELA ALONSO)

"O feminismo é um câncer." "O Holocausto realmente aconteceu?" Frases nesta linha saíram da boca, ou melhor, do Twitter de Tay. Você não sabe quem é? Não tem importância, Tay já não existe. Viveu míseros quatro dias. Era um robô interativo da Microsoft, criado para se comunicar com o público jovem. Morreu graças a seu sucesso.
A empresa sacrificou Tay por conta de sua empatia com usuários do Twitter, em cuja convivência se converteu em racista, xenófoba, machista, isto é, em eleitora potencial de Donald Trump ou Jair Bolsonaro.
Tay serviu de esponja e espelho para fenômeno em alta: a radicalização de posições políticas. As novas tecnologias circulam juízos peremptórios e informações sem checagem. Como na vida "real", laços virtuais se constroem entre os assemelhados em opiniões, aspirações, gostos. Mimetismo de "likes" e "shares" instantâneos, ânsia de pertencimento que suprime o raciocínio complexo, apostos e adversativas –quem se aventura incorre num pecado, o "textão". O alarido é por apreciação definitiva, a favor ou contra, sem meio-tom.
A radicalização política cria cercas de arame farpado no mundo virtual como naquele estrangeiro a Tay, o da convivência face a face, em carne e osso. E derrama sangue –Paris e Bruxelas, Turquia e Paquistão o testemunham. No Brasil, produz tensão que se apalpa com os dedos.
"Radicalização" está longe de ser termo unívoco. Basta ir ao "Aurélio" –digo, ao Google. O radical do século 19 ficava à esquerda dos liberais: pró-reformas igualitárias e uso cirúrgico da violência, como pregavam os anarquistas de que trata Benedict Anderson no livro "Sob Três Bandeiras: Anarquismo e Imaginação Anticolonial". Radicais por contraponto ao outro lado da balança, tão saliente na vida brasileira, o conservadorismo.
Mas ser radical também é ir à raiz. Antonio Candido, em ensaio chamado justo "Radicalismos", comenta grandes do pensamento brasileiro –Manuel Bonfim, Joaquim Nabuco, Sérgio Buarque de Holanda– que desvelaram os alicerces de nossa formação social.
Radicais do pensamento, como esses, privilegiam o diagnóstico acurado das causas dos problemas, ao passo que os radicais da ação, o objeto de Anderson, vão logo às vias de fato. Qual desses tipos grassa no Brasil hoje? Dispensa esforço detectar a engorda dos radicais da ação e a anemia dos radicais do pensamento.
Nos protestos pró-governo ressurgiu ativista que parecia morto como Tay, o radical de esquerda. Voltou sua estética, sua imagética, suas palavras de ordem, sua orientação distributivista. Mas sem o distintivo, segundo Candido, dos radicais clássicos: a originalidade de diagnóstico e prognóstico.
Se neste lado há escassez, no outro, há penúria de pensamento novo. Domina a opinião pública hoje este tipo paradoxal, espécie de oximoro: o radical de direita. Seu ar da graça se deu em faixas chulas e pueris em protestos que extrapolaram o ataque ao governo e à pessoa da governante, para incidir sobre direitos adquiridos e liberdades individuais.
Você o conhece: vocifera em programas de TV, blogs, ruas, incapaz de tolerar os distintos de si, seja em gênero, classe, raça, orientação sexual, religiosa ou partidária. Na sua lógica, o diferente é um desclassificado, cuja existência ofende. Alguém com quem não pode conviver e que quiçá possa eliminar, numa materialização dos reality shows.
Essa indigência da ação tampouco acha estofo no pensamento. Esses radicais –ou liberais, como sua versão mais culta preferiria– estão a dever uma exposição apurada dos fundamentos de suas posições. Faltam análises sofisticadas, dignas do contraponto com Sérgio Buarque, ou que honrassem um Oliveira Vianna.
Multiplicam-se os raciocínios chinfrins, vez ou outra embalados em erudição –inclusive em artigos neste jornal. Simplificação extrema do pensamento escancarada por jovens incautos o bastante para explicitar o maniqueísmo –caso do mocinho que declinou seu modelo norteador: os Power Rangers.
É uma intolerância singela "contra-tudo-que-está-aí". Raciocínio de prazo e perna curtos que impede de avistar o "tudo-o-que-está-por-vir".
Estes novos radicais de direita, qual Tay, apenas destilam bílis. À diferença dos de esquerda, desconhecem liderança. São criaturas antes miméticas que reflexivas, mas aptas a se rebelar contra seus criadores. Tay o fez: achacou a Microsoft sem clemência. E, ao contrário do robô da Microsoft, os nossos têm um defeito de fabricação: carecem do botão de desligar.

Fonte: Folha de S. Paulo (10/04/2016)

quarta-feira, 13 de abril de 2016

segunda-feira, 21 de março de 2016

BOMBA-RELÓGIO
Drauzio Varella



A medicina de hoje custa os olhos da cara. Na contramão de outros ramos da atividade econômica, na assistência médica a produção em escala e a incorporação de novas tecnologias encarecem o produto final.
Até os anos 1960, os medicamentos eram relativamente baratos e dispúnhamos de poucos recursos laboratoriais. Os exames de imagem ficavam praticamente restritos ao eletrocardiograma e ao raio-X simples ou contrastado.
Nos últimos 50 anos, surgiram exames que nos permitem analisar detalhes da fisiopatologia humana e das características dos germes que nos atacam. Ao mesmo tempo, a automatização e a informática possibilitaram acesso aos resultados das análises de sangue e de outros líquidos corporais em algumas horas.
Ultrassons, tomografias computadorizadas, ressonâncias magnéticas, PET-CTs, cintilografias, endoscopias, cateterismos e outras tecnologias que fornecem imagens anatômicas nítidas e dão ideia do funcionamento dos órgãos internos revolucionaram nossa capacidade de fazer diagnósticos e avaliar a eficácia dos tratamentos.
No mesmo período, a indústria farmacêutica soube aplicar os conhecimentos gerados na academia para desenvolver drogas e agentes biológicos de toxicidade baixa, capazes de curar infecções graves e controlar doenças crônicas por muitos anos.
Ao lado desses avanços técnicos que tiveram enorme impacto na qualidade de vida e longevidade da população estão os custos exorbitantes trazidos por eles.
Os 150 milhões de brasileiros que dependem exclusivamente do SUS convivem com a falta de recursos e os problemas crônicos de gerenciamento do sistema público. Os 50 milhões que pagam planos de saúde queixam-se das mensalidades e dos entraves burocráticos para marcar consultas, exames e internações.
A pobreza do SUS todos conhecem. O que poucos sabem é que a saúde suplementar trabalha com margens de lucro perigosas. Contabilizando os planos mais lucrativos e os deficitários, as operadoras têm, em média, 2% a 3% de lucratividade.
No Brasil, a faixa da população que mais cresce é a que está acima dos 60 anos -justamente a que demanda os cuidados médicos mais dispendiosos, que o sistema público não tem condições de suportar e as operadoras não conseguem transferir para seus usuários sem levá-los à inadimplência.
Não é necessário pós-graduação na Getúlio Vargas para constatar que a persistirem os custos crescentes, nosso sistema de saúde ficará inviável: o SUS em crise permanente por falta de verbas; a saúde suplementar, pelo risco de falência.
Não existe saída, senão deslocar o foco das políticas públicas da doença para a prevenção. É insano esperar que as pessoas adoeçam para então nos preocuparmos com elas.
Se 52% dos brasileiros estão com excesso de peso, metade das mulheres e homens com mais de 50 anos sofre de hipertensão, o diabetes se acha instalado em mais de 10% dos adultos e a dependência do fumo corrói em silêncio o organismo de quase 20 milhões, haveria alternativa?
A responsabilidade é de todos, inclusive dos médicos. Saem de nossos receituários as requisições de exames desnecessários, medicamentos caros e condutas que contradizem evidências científicas.
As faculdades de medicina têm que ensinar noções de economia e de gerenciamento. É um absurdo nababesco prescrevermos remédios e exames sem ter ideia de quanto eles custam.
O sistema de saúde brasileiro vai quebrar se não criarmos estímulos para que cada cidadão assuma a responsabilidade de cuidar do próprio corpo, conscientizarmos os médicos e a população de que exames desnecessários consomem recursos e trazem riscos, exigirmos que hospitais e centros de atendimento apresentem indicadores que permitam avaliar a qualidade e o custo/benefício dos serviços prestados, negociarmos com a indústria os preços abusivos de algumas drogas, próteses e equipamentos, e estabelecermos critérios rígidos para impedir que a judicialização errática de hoje se perpetue em benefício dos que podem contratar advogados.
Uma população sedentária que fuma, engorda e envelhece é uma bomba-relógio para um sistema de saúde perdulário e subfinanciado como o nosso. 

Fonte: Folha de S. Paulo (05/03/2016)

sexta-feira, 18 de março de 2016

HAVANA, FORMOSA EM SUA DECREPITUDE
Leonardo Padura



Pessoas de todas as partes do mundo chegam todos os dias a Havana com a intenção, entre outras possíveis, de penetrar em um parque temático do urbanismo eclético, que, como vantagem adicional, possui o ingrediente de ser habitado por pessoas reais, com vidas reais.
A capital cubana, que nasceu e cresceu graças à geografia –a bênção de uma baía protetora diante da corrente e do golfo do México–, foi até o século 18 uma cidade mais marinheira e militar que civil ou religiosa. Seu primeiro grande crescimento urbano se deu no século 19, quando, ainda colônia espanhola, a ilha desfrutou de um crescimento econômico impressionante. Palácios burgueses, teatros, avenidas e praças cresceram então, extrapolando o velho recinto murado, e converteram Havana numa cidade esplendorosa.
Já no século 20, os momentos de prosperidade econômica contribuíram para lhe dar sua fisionomia definitiva, num processo de expansão urbana que deu origem aos novos bairros aristocráticos e de classe média em que hoje vive a maior parte da população havanesa.
Os paulatinos movimentos expansivos da cidade foram deixando para trás, como obstáculos do passado, os lugares que iam perdendo a preferência dos cidadãos mais influentes. Mas sua permanência urbana tornou-se necessária para abrigar a grande massa proletária, os migrantes nacionais e estrangeiros que ocuparam essas áreas que ficaram desfavorecidas e entre as quais se encontrava, justamente, a zona mais histórica da cidade, a chamada Havana Velha.
As décadas do período revolucionário iniciado em 1959 que sacudiram a sociedade cubana até suas bases mudaram muito pouco essa estrutura física que a cidade tinha alcançado. Pelo contrário –entre carências econômicas e o descaso governamental e privado, a cidade de Havana não apenas ficou parada no tempo e no espaço como foi caindo nesse marasmo de abandono em que se encontrava na década de 1990, quando chegou a grande crise econômica do momento pós-soviético e, como ele, a impossibilidade de melhorar o estado construtivo de uma cidade envelhecida que foi se povoando de ruínas, desastres urbanísticos e ruas esburacadas.
Em parte graças a esse abandono, a Havana Velha, diferentemente de outros bairros históricos, conservou sua cara antiga e, devido ao empenho do Escritório do Historiador da Cidade, iniciou um quarto de século atrás um processo de recuperação que, apesar de parcial, conseguiu resgatar o encanto de uma parte da cidade colonial e preservar suas construções mais históricas e simbólicas, conferindo-lhes, além disso, utilidade e visibilidade. Hoje a Havana colonial é uma importante atração turística internacional.
Mas o resto da cidade, excetuando obras e zonas muito pontuais, não teve a mesma sorte. A prolongada falta de investimentos em sua melhoria cobrou e está cobrando o preço de uma deterioração crescente que se torna especialmente dramática em um país cujo déficit habitacional é um de seus males sociais crônicos.
O panorama urbano de Havana se complicou, além disso, devido a uma política muito vulnerável de organização urbanística que permitiu a deformação profunda do caráter de certas áreas da capital cubana e o surgimento de modificações estruturais e decorativas que fizeram do tradicional espírito eclético da cidade (dona, segundo o escritor Alejo Carpentier, "do estilo das coisas que não têm estilo") um emaranhado de possibilidades em que o feio e o improvisado ergueram seu império.
Assim, hoje Havana, ou grande parte de Havana, é uma cidade ameaçada pelas ruínas. Com ruas estragadas, rede de esgotos obsoleta e muitas, muitas construções em mau estado ou em condições de "estática milagrosa" (porque só não caíram por milagre), a cidade clama por uma inversão grande que a salve e, sobretudo, permita uma vida familiar mais digna para centenas de milhares de pessoas.
Somam-se a essas circunstâncias existentes na Havana "visível" as que se vivem na Havana "invisível", aquela que foi tomando conta da periferia urbana onde nasceram diversos assentamentos emergentes, muitos deles sem rede de água ou esgotos, formada por construções erguidas com qualquer material que possa servir de paredes e telhado. Esses bairros, onde vivem sobretudo pessoas vindas da parte oriental da ilha (os chamados "palestinos"), imagino que não devem figurar em nenhum plano urbanístico, razão pela qual não devem receber inversões –apesar de que ali também vivem cubanos e cubanas, velhos e crianças.
Mas acontece que no calor do boom de Cuba, e em especial de Havana como destino turístico, e sob o efeito do novo estado das relações entre a ilha e os Estados Unidos, Havana parece estar no centro de interesse de muitos investidores. Esses investidores potenciais sabem que a capital cubana é uma cidade atraente, histórica, singular (esse parque temático que mencionei antes), mas onde praticamente tudo está por fazer. Porque Havana precisa de uma renovação de sua infraestrutura; a cidade clama por hotéis e outros alojamentos; ela precisa de uma remodelação de seu litoral, ainda mais quando o porto comercial foi transferido para Mariel e a baía de Havana ficará como raia turística e esportiva.
Como Havana vai assimilar esse vendaval tão necessário, eu diria até inevitável, que assoma no horizonte? Que política econômica e urbanística aplicar: a tradicional, caracterizada pelo controle e os freios, ou a da abertura... e do descontrole? A ruína ou o aço e o vidro? Algum meio termo?

Os dilemas são dramáticos, e os urbanistas e arquitetos cubanos têm consciência disso. Havana não pode continuar em seu estado atual, porque sua doença é demasiado grave. Se bem que, como diz o refrão cubano, às vezes "o remédio é pior que o mal". Só que, para salvar a cidade, é preciso salvar primeiro o bem-estar de seus habitantes, e entre uma e outra exigência pode estar a alternativa do diabo... e o fim dessa Havana, formosa em sua decrepitude, que ainda hoje podemos ver... sofrer.

Fonte: Folha de S. Paulo (27/02/16)